segunda-feira, 9 de novembro de 2009

um pouco em demasia

fingia que não sentia
entrava
o outro saía
transformava lixo em poesia

quebrava objetos
sentimentos
expectativas
buscava uma lente de aumento
outra perspectiva
não sentia sequer um frio na barriga
e o após era apenas contradição...

entrava no inferno
perdia o chão
voltava atrás
sem sincronia
mas sabia que um dia
estaria em paz

um pouco

talvez fora de compasso
sabia que sim
o que sentia era falso
um tanto incompleta
à espera do fim

e as linhas discretas
sugavam a mim...

um pouco incerta
perdi a razão
troquei de pessoa
de opinião
quebrei a partida
voltei à saída
logo na entrada
eu já percebia
que sim
eu sentia
um pouco em demasia
por fim
eu morria
nascia
por dentro
por fora
só vento

um ar
fantasia...

o limiar entre a loucura e a sanidade
o meiotermo entre a cura e a saudade
a linha tênue entre a ira e a melancolia
no limite da mentira
um pouco em demasia.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ex-piração

Distorcida é a imagem
Que eu costumo fazer dela
Ela é dama, devassa, vulgar, esquisita e tem pitadas de donzela
E ao mesmo tempo, é claro, de versátil ela tem tudo
Muda da água para o vinho
Do funil para o canudo
Às vezes no fundo do poço, outras no cume da colina
Agradam-lhe as aventuras, os prazeres líquidos e um
Muito de adrenalina
Uma bela montanha-russa, se é que posso assim chamar
Ela acredita em energia, nas forças
Da água, do fogo, da terra e do ar
Tem um lado todo sensível, com tranca de ferro, cadeado e portão
De amostra grátis tem a parte bruta
Aberta em público e exposição
Do boxe foi pra ioga
Queria técnicas de respiração
Buscava o alfa, entrar em transe
E um tanto quanto de inspiração
Surgiu um pouco de efeito e
Como sempre, intensidade total
Após seis meses ela acharia um defeito
E pularia do início para a etapa final
Fugaz e instável, ela baixou a guarda
É muito fácil pra quem é tudo
no outro segundo virar nada
Seguiu avoada... Tendo espasmos de piração
Não queria ouvir mais nada nem a cabeça ou o maldito coração
Para tudo, ela quer descer
Não se engane, logo passa
Mal-estar de curta temporada
Ou até o dia seguinte amanhecer
Ela sempre foi assim mesmo
Ora plebeia, ora rainha
Alter-ego em eterna inconstância
Um processo contínuo sem eira nem beira
Como ela mesmo dizia
É uma fase passageira
Deveras piegas, mas cruelmente real
A razão tornou-se a maneira
De atrair a emoção para o passional
Hoje em dia ela anda um pouco mais calma
Tenta lidar com o ego, com a mente, o corpo e alma
A imagem que eu tinha mudou em
Pequenos detalhes, mas creio de fato
Que ela ainda não aprendeu

.
Volta e meia me pergunto:
Será coincidência se uma
Daquelas imagens for eu?

50% off

Exposto na vitrine
À primeira vista não chama
Atenção em (quase) nada
Você olha de perto sente
Gosta e usa
Alguns dias e... totalmente extasiada
Não era de grife nem
Nada muito deslumbrante
É aquela peça coringa
Te serve num dia, aperta
No outro, uma relação
Inconstante
Um consumismo avassalador, eu diria
Você usa o produto
E ele te usa, sem ter sequer
Um mísero termo de garantia
Não
Não era roupa, jóia, bolsa e nem perfume
Me refiro àquelas peças esdrúxulas
Que demoram a amaciar e pegar forma
Funcionam na base do costume
Devo ser de fato uma consumista
Impulsiva ou cliente radical
A peça não foi trocada, guardada
Para uma ocasião especial e nem
Jogada na gaveta
Resolvi botar no lixo com menos
De um mês de uso, antes que
Virasse obsoleta
Talvez um dia eu me arrependa
Sem nunca ter certeza se a peça
Era única, produto falsificado
Ou de excelente qualidade
Senti apenas que o (meu) tempo
Já tinha expirado, o tão temido
Prazo da validade
Quanto ao uso? Foi ótimo, admito
Produtos (semi) descartáveis são
Assim mesmo. Desconfie quando
Ouvir sobre durabilidade
É com certeza puro mito.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Inviolável

Se você tentar percebê-la, não vai encontrá-la.
Ela sempre esteve ali de uma forma quase ausente.
Fria como as fases da lua, sem que o sol pudesse
tocá-la em seus dias mais quentes.
Se você escutar, talvez a ouça sorrir ou gritar
em um tom quase mudo.
Ela muda.
Quase sempre, durante o dia ou agora.
Os dias não passam despercebidos para quem
a vê de fora.
E o tempo... ficou sem sentido.
Quantos quilos ela já perdeu?
Quantos cigarros deixou para depois?
Quantas máscaras usou e o quanto
de si ocultou?
Se ela se apaixona, é mentira.
Se ela diz que perdeu a noite, é verdade.
Se ela diz que o mundo dá voltas...
Talvez você a entenda melhor de longe
do que aqueles que estão por perto.
Se você sumir, não importa.
Se ela some, não volta.
Se seu poder é grande, só ela não sabe,
porque, se acreditar, vai embora.

domingo, 25 de outubro de 2009

Boa Sorte

Desejo boa sorte
e um pedido de morte

Desejo apenas
dormir e acordar curada
sem memória
sem saudade enraizada
da história que passa

Mas volto a sentir
quero a morte simples
sem volta
sem precisar me despedir

Eu só peço por favor a morte
do que insiste em viver aqui dentro
e peço sorte
para que jamais volte
que voe longe com o vento

Desejo o silêncio eterno
o fim da respiração de tudo
seja no céu ou no inferno
desejo toda a sorte do mundo

Quero a sorte infinita
e a morte natural
somente do que for renascer
Quero me livrar de sentimentos parasitas
com o poder da eutanásia sem doer

Eu almejo por agora
sorte plena
de dentro para fora
morte amena sem demora

Matar de vez o que eu sinto
E sim ser imediatista
Matar os personagens
cenas falsas
pseudo-artistas

Matar aquilo que vive ausente
o passado
o presente

Matar de verdade
a vontade
a mania
a saudade
os erros

Boa sorte e bom dia
quando eu acordar curada no enterro