quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Me deu um branco

Memória seletiva
Impera sobre meu ser
Esqueci de mim
Esqueci de você
Esqueci de pensar
Esqueci de existir
De falar de ser e estar
Andei perdendo a razão
Palavras e um pouco de ar
Me deu um branco
Perdi a memória
De resto, uma porção
De sobras:
(Des)afetos pra contarem
A história
Que sequer teve um início
E o fim foi um durante
O meio é como um vulto
Sem luz e sem semblante
Esqueci o que era o certo
O errado, o infalível
Lembro apenas
Que de longe
Já enxergava
O previsível
Perdi o que nunca tive
Desconheço o que possuí
Minha memória
Me atormenta
Quando lembro
Já esqueci
Deixei passar em branco
O que era pra ter cor
Não lembro
Nem do gosto
Do desgosto
Ou do valor
Me deu um branco
E a lembrança
Transparente
Transformou-se
Em tom difuso
Um tanto quanto
Ausente num
Sentido obtuso
Mesmo ausente
Está presente
Um detalhe, uma vontade
Que revela e releva
A lembrança que me invade (...)

Pecado é provocar o desejo e renunciar

Eu quebrei o que me exacerba,
Colei cacos da minha soberba
E deixei restos trincados

Me cortei com as incertezas
E senti certa avareza
Ao doar meu outro lado

Trouxe à tona a minha luxúria
De um jeito retraído
Tive inveja da minha gula
Por provar sem ter sentido

Minha infame vaidade
No entanto, vira ira
Quando perco pro meu ego
Ou me entrego à mentira.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Um ar

Faltou consistência
um pouco da tua essência
num sentido horizontal
Me doei por partes
uma em cada metade
numa linha desigual
Eu sinto...
Sinto muito a tua falta
um pedaço de ti me assalta
furta rouba e suga o que resta em mim
Um pouco de ti me assusta e me ajuda
na busca absoluta
que aprendi vivendo assim...
Eu te sinto nos retratos
o teu gosto, o teu tato
que me prende e não solta
Eu fujo do início
me perco no meio
e esqueço por onde se volta
Subliminar
tento te intimidar
tento em ti me dar
sublime no ar...
Eu sinto muito
não agi como o esperado
sinto aos poucos
sinto muito o passado
aguça todos meus sentidos
Te sinto por tudo
nos sabores, temperos e perfumes
nos silêncios reprimidos
Perdi o bom-senso
te queimo como incenso
e aceito a fluidez
a fumaça vazia que
desmancha, deslancha
envenena, desanda
perdi a vez
Eu sinto e sinto muito
o que não foi
o que já foi
e o depois
Nas paredes
entre versos
nos recados
em desejos
desvendados
Eu te sinto
tanto assim
Me aquece em fogo brando
não me deixa esfriar...
Sinto muito entre os cantos
teu encanto está no ar
só um ar.